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26 de março de 2017
12 de março de 2017
'As invisíveis Dandaras'
Dandara
Houve uma morte, filmada, visualizada nas redes sociais… Brutal, cruel… Pensada… Dandara, de 42 anos foi a vitima. Motivo? Ser trans…
Segundo o Grupo Gay da Bahia, em 2016, 144 travestis e transexuais foram assassinadas no país. Neste ano, que está apenas no seu terceiro mês, já são 23. Eles formam o segundo grupo mais atingido entre vítimas fatais de ataques homofóbicos em 2016. Dos 343 assassinatos de pessoas LGBT, 173 eram gays (50%), 144 (42%) trans (travestis e transexuais), 10 lésbicas (3%), 4 bissexuais (1%), além de 12 heterossexuais também em crimes homofóbicos – eram amantes de transexuais, chamados “T-lovers”.
Estatísticas oficiais não existem. Leis de proteção aos LGBTs, não existem. Direitos foram conquistados nos últimos anos, mas ser LGBT no Brasil ainda é ser quase que invisível.
A morte de Dandara chocou as redes sociais. Chocou até no exterior… Chocou pela brutalidade, pelo doloroso desrespeito aos direitos humanos, pela forma consciente dos agressores… Ela era uma trans e foi morta por ser trans.
Ser LGBT no Brasil atual é risco, a crescente intolerância e desinformação da sociedade transformam a individualidade em pesadelo. Zilhões de discussões se seguem e gays brasileiros seguem na invisibilidade. Sem estatísticas oficiais, sem legislação apropriada os números de mortes só crescem. Grupos de defesa das minorias, grupos de direitos humanos e os poucos políticos brasileiros que defendem as minorias fazem coro para uma mudança rápida na legislação, porém são vozes abafadas dentro do poder público. O descaso dos legisladores e também do judiciário travam avanços importantes na manutenção da dignidade e proteção de todos os LGBTs. Nenhum de nós esta imune a violência.
As dificuldades só crescem, desde o pouco engajamento dos próprios gays, a crescente onda fundamentalista religiosa, até a falta de proteção jurídica. O estado brasileiro por muitas vezes é criticado por criar legislações específicas para grupos minoritários, porém sem essa alternativa, grupos inteiros sofrem violências contínuas. Vale lembrar que a Lei Maria da Penha, que ampara contra a violência contra a mulher foi muito contestada e veio; mesmo que tarde; para amparar não uma minoria, mas uma maioria dos habitantes do Brasil, que mesmo assim ainda sofrem enormemente. Algo precisa ser feito rápido.
Ter visto a trágica gravação do crime, me doeu profundamente. Eu, um paulistano de 49 anos, quis sentir na pele a que ponto chega a insanidade de alguns… Eu quis que doesse em mim também simplesmente para poder ter a certeza de que é preciso resistir, SEMPRE! Quiser eu que doesse também, nos donos do poder publico; não falo dos políticos somente; falo dos reais donos, o povo, a sociedade que esta alheia a fatos como esse.
Muitos brasileiros morrem todos os dias com a escalada da violência mas morrer por motivo explícito, morrer por ser gay, lésbica, travesti, transsexual ou bissexual é um fato que não pode mais estar invisível no número geral da violência no Brasil. Morremos a cada morte de um dos ‘nossos’. Morremos e a invisibilidade persiste.
Se o caso Dandara não tivesse chegado as redes sociais, talvez, nós aqui do sudeste não saberíamos da barbárie, como não sabemos dos inúmeros casos que acontecem Brasil a fora. Maria da Penha, um dia teve voz e foi ouvida. Esta na hora de alguma ‘Dandara’ ser ouvida também.
Chega de invisibilidade!
Para Dandara 1975 - 2017
Paulo Franco
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