Vou trancar meus sentimentos e irei guarda-los,
As lágrimas correm fico na espera de algúem,
Está chovendo e o vendo se iguala a mim,
Não quero ser nenhum mandão,
Luiz Alberto
foto: Paulo Franco
Despedida
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
por
Rubem Braga
( extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967)
Ensaio sobre a cegueira
Detonautas Roque Clube
Onde não se pode mais encontrar um coração, me provoca o teu desprezo com um pouco de atenção. A mentira que te cerca é mais normal do que se crê, Entre a sua liberdade o meu direito de viver. Tente imaginar, tente imaginar... nos dois. Tente imaginar, tente imaginar... depois. E não confundir, ódio com diversão. Medo com paz. E não confundir, ódio com diversão,afinal não estamos sós.
Onde não se pode mais encontrar o coração,me provoca o teu desprezo com um pouco de atenção. A mentira que te cerca é mais normal do que se crê. Entre sua liberdade o meu direito de viver.
Tente imaginar, tente imaginar... depois. Tente imaginar, tente imaginar... nos dois.
E não confundir, odeio com diversão. Medo com paz. E não confundir, ódio com diversão. Afinal não estamos sós.
''Jovens sem nenhuma utopia,caminham tensos pelas ruas de suas casas velhas, sem nenhuma luz. Sem nenhuma luz de Fernando Pessoa. Fechados nas sexuais telas da impotência, se masturbam contemplando corpos em decomposição. Morte da minha fé, onde estavam o beija- flor e o arco- íris, Na hora do nascimento destas criaturas. Quantas gostas de flor restam pros corredores de céus de vossas bocas, Quais noites clamam por vossos nomes. Eu entrando na virtuosa idade, eles entrando em idade nenhuma. Os filhos da morte burra, cheiram o branco pó da anemia. Esqueceram que um dia tocaram na poesia da transgressão,em pleno frente se suas esquecidas mães. Esqueceram de colar o ouvido ao chão, para ouvir as ternas batidas do coração das borboletas. Os filhos da morte burra, jamais levanta uma folha para conhecer o labor dos insetos. Jamais erguem taças ao luar, para brindar a vigorosa lua. Os filhos da morte burra, desconhecem ou jamais ouviram falar em iluminação. Apenas abrem a boca para vomitar''
E não confundir ...Ódio com diversão. Medo com paz. E não confundir...Ódio com diversão,afinal não estamos sós.
foto: Paulo Franco