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4 de julho de 2005

"Pela história, um olhar sobre a poesia gay"

A inspiração homosexual masculina é tão antiga e respeitável quanto a própria poesia ocidental. Cerca de quatro mil anos atrás, numa epopeia suméria o guerreiro Gilgamesh já lamentava de forma suspeitosa a morte de seu amigo Enkidu. A dor de Aquiles, sobre o cadáver de Pátroclos( ha quase tres mil anos na "Ilíada") é inequivoca.
O amor declarado de Alexandre o Grande por Hephaestion, foi tema de inúmeros trovadores.
Não se tratavam de simples amizades. Poetas clássicos como Homero já mostravam isso.
Quanto aos poetas latinos, embora não se interessassem preferencialmente por garotos, tampouco parece que os desdenhassem. No mundo clássico, o tema só se tornaria tabú, com a vitória do cristianismo.
O crucifixo expulsou o "amor grego" como assunto nobre para a poesia por mais de um milênio e meio. Norman Cohn; especialista no assunto; lembra que a sodomia pesou como uma das mais graves acusações no processo de banimento iniciado por Felipe o Belo contra a Órdem dos Templários.
Não é segredo que no século 19 começa a aparecer no Ocidente uma liberalização gradual dos costumes. Ela decorre diretamento do enfraquecimento do poder da igreja e do fato de as pessoas não quererem que os religiosos deliberassem mais sobre sua vida privada. Um dos resultados é o aparecimento de poetas assumidamente homosexuais.
O rumoroso caso de Rimbaud com Verlaine, a fama de Walt Whitman, o martirio de Oscar Wild, a caça a Garcia Lorca pelo regime fanquistana espanha, são entre outros exemplo deste "sair do Armário".
Constantinos Kaváfis; Frederico Garcia Lorca; Wystan Hugh Auden; Luis Cermuda; José Lezema Lima; Jean Cocteau; Severeo Sarduy, são expoentes de peso nesse universo que compõe a literatura homosexual.
Hoje em dia, as mega stores de cultura já disponibilizaam espaços inteiros para o tema gay, a midia veicula, mesmo que para os heteros os "garotos" de Sarduy não despertem interesse tal como as "garotas" de Vinicius de Morais para os gays não passem apenas de "Garotas de Ipanema".

Estamos na história...


Severo Sarduy
poeta e escreitor cubano (1937 - 1993)

Flauta-fêmur, matraca não untada

Flauta-fêmur, matraca não untada
mas com amor lambida, matraca
que em seu alucinado tira e tasca
por simétricos orbes capturada

aumenta sua graossura. Desaforada
o sufocante sobe e desce, malha
que de cifra final ou de mortalha
lhe servirá de espada. Lubrida fada

Que sem pretexto nem pudor derrama
por sobre os lábios uma cruz de giz,
a medula dos ossos que se esgota

bem na fulguração de sua chama,
entre a incandescência e a cinza gris,
Morte que vai caindo gota a gota.


Jean Cocteau
poeta e cineasta frances (1889 - 1963)

De Socrate

Ce qui distingue cette tombe
des autres, soit dit en passant
C'est que n'y viennent les colombres,
mais, parfois, de ux agneauux paissant.

Visiteuse que ne vous vexe
ce sage victime de sots,
c'est la grâce de votre sexe
qu'il aimait chez le jouvenceaux.


De Sócrates

O que distingue esta tumba
das outras, dito de passagem,
é que nela não pousam as pombas,
mas de dois cordeiros é pastagem.

Visitante não fique perplexa
com esta sábia vitima dos tolos
é a craça do vosso sexo
que ele amava nos garotos.


"Te espero"

Por mais que eu saiba, entenda, invade-me
tudo o chega agora...
... não consigo parar meu coração.
Não tenho armas tampouco tempo
para jogar uma pá de cal,
sepultar, esquecer...

Meus olhos tem direção e para eles... eles vão...
Vidro procurando amparo...
Sigo e para eles vão...

Por mais que digam, apelo... somos felizes
não nego e pelas esquinas que sigo... é assim que sei fazer...
... na minha música toco-os assim
minha caneta o faz também...

Eu espero te querido
a igualdade me mantem direito
procuro te com esperança jamais perdida
jamais tirada...

Não consigo parar meu coração
também nem mesmo quero
não tenho tempo
por mais que digam...
Querido te espero...
Querido...
... te espero.

Elton junior 03/07/2005


"Esperando o teu olhar"


Gostaria de te ver chegar mais cedo,
de te ver sorrindo, de te ver aqui...
Gostaria de te ver chegando
se instalando aos poucos
deixando teus pertences
me tomando todo
me tomando tudo.

Gostaria de te ver com as malas prontas
passporte em visto, no saguão pra vir...
Gostaria de te ver voando
me mandando beijos
entrando pela sala
me fazendo teu
me dizendo OK...

Gostaria de pular as cercas
da distância invisível, do poder sentir...
Gostaria de dizer "já basta"

"agora és só meu..."
enquanto rumo ainda só
esperando você chegar
esperando o teu olhar.

Elton Junior 01/07/2005

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