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25 de abril de 2007

foto montagem: Paulo Franco

As quatro estações – o texto
Inicio 16/10/2005



“O meu sonho realizado. O meu céu, minha terra, meu sorriso. Aos meus amigos... Aos olhos mais lindos... Ao amor... Meu amor”.




Introdução

São Paulo, 25 de setembro 2056.

Olho me no espelho agora e asseguro que estou completamente lúcido. Não tenho muito mais o que fazer, a não ser viver o que me resta nesta vida.
Tudo o que construí, ficara por ai e aqui neste apartamento depois que me for. As lembranças boas desta minha passagem irão comigo; gravas na minha consciência; heranças para desfrutar numa outra oportunidade quem sabe.
Eu sempre quis ser um homem de bem; sei que nem sempre consegui; mas acho que entre mortos e feridos, fiz o que deveria e até ouso dizer que algo mais eu realizei.
Concordo que já é inútil lamentar por tudo o que senti, desde o memento que me deparei com uma outra condição de vida. No fundo acho que já aceito que realmente escolhi ter sido assim.
Olho para as paredes deste lugar e sinto um alívio estranho, quase salvador e ao mesmo tempo amedrontador. Sei que daqui a pouco não estarei mais sozinho, Bruno chegará trazendo seus amigos e me tirará destes devaneios. Ele irá olhar me com seus olhos meigos, dirá o que vem tentando dizer há dias e eu; ciente do que se trata; irei cumprir o que deveria ter feito por mim mesmo há muitos anos traz.
Lembro me; e como a idade nos deixa clarear as coisas; que quando estudava a doutrina que já a muito me norteia, ouvia dizer das certezas que poderíamos ter para melhorar nossas condutas. Condutas que me colocavam em cheque; que tanto me fizeram pensar; e se hoje posso dizer que não estarei só neste dia, devo a esta confusão mental que me abalroou em cheio.
O tempo é capaz de desfazer tudo o que imaginamos ao longo de uma vida inteira. É capaz de impor outras regras e de nos jogar numa situação incomum mesmo antes que possamos nos definir de vez.
Se eu for juntar todas as etapas até chegar aqui; enumerar os riscos e acertos que fui capaz de cometer; não posso de maneira nenhuma desdenhar da capacidade que tive em dizer sim as propostas do desconhecido. Eu disse inúmeros sim.
Esta noite eu estarei novamente desfrutando de uma sensação que não vivo há muito tempo. É extremamente engraçado como perdemos a ingenuidade com o passar dos anos e a certa altura da vida a recuperamos. Sinceramente eu gostaria de voltar no tempo e revisitar uma época muito importante. Quando eu era uma das Estações.
Agora que estou vivendo o derradeiro ato do outrora inverno, tenho este desejo contido, como um dos últimos.
Meu garoto chegará logo e ele faz hoje aquilo que já fiz. Vive sua juventude, esta se formando com mais acertos e quem sou eu, para corrigir ou refutar o fato. Certamente, quando ele chegar; achando pegar me de surpresa; trará a vida tudo aquilo que esta hoje guardado dentro desta velha cabeça, dará me a oportunidade de ver me inserido dentro de um quadro azul e limpo, claro como nos anos bons. Sua alegria me trará conforto e animará meus olhos, como ele já animou numa certa manhã de outro setembro.
Bruno; meu filho; a maior de todas as minhas alegrias. O maior de todos os meus gestos, o presente que um homem que completa hoje oitenta e oito anos, pode receber de Deus.


O autor
foto> "As Quatro Estações" por Paulo Franco.
texto> Introdução do livro "As Quatro Estações" de Paulo Franco

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