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24 de outubro de 2007

O outro lado das fábulas.


João e o Pé de Feijão.

"AS FÁBUALAS LIDAM, DE FORMA LITERÁRIA, COM OS PROBLEMAS BÁSICOS DA VIDA, ESPECIALMENTE OS INERENTES Á LUTA PELA AQUISIÇÃO DA MATURIDADE."

As fábulas do estilo de João e o Pé de Feijão, são de origem britânica, sendo este a mais conhecida delas. Alguns dos seus elementos mais importantes são: a semente milagrosa que plantada faz nascer uma árvore que atinge os céus; a troca de algo bobo por algo possuidor de poderes mágicos; o gigante canibal que é vencido e roubado pela esperteza do herói; uma galinha que bota ovos de ouro ou o ganso de ouro; um instrumento musical que fala.
" A combinação destes elementos numa estória que afirma a conveniência da auto-afirmação social e sexual no menino púbere, a tolice da mãe que o menospreza, fazem com que a fábula seja muito significativa.
"A estória de João, sem violentar a crença no "maravilhoso" que ajuda a dar um sabor á vida, ensina que devemos sempre tomar a iniciativa e os riscos de traçarmos e trabalharmos na nossa vida , se queremos chegar a algum lugar.
João é um exemplo deste ensinamento.Quando ele vê o crescimento da árvore ele não espera que ninguém o mande escala-la para ver onde vai dar, ele toma a sua própria iniciativa de realizar a façanha .Depois, o pequeno herói se arrisca três vezes, escalando novamente a árvore para conseguir os objetos mágicos que viu na casa do gigante. Finalmente, ele destrói o pé de feijão para a sua própria segurança.Quando João resolve vender a vaca recebendo como pagamento as três sementes mágicas, descobre-se que ele ainda estava na fase oral. ou seja, ele necessitava de uma crença mais realista para encontrar segurança e abandonar esta fase, pois" a criança só aceita abandonar a fase oral se puder encontrar segurança numa crença realista, ou, mais provável, numa crença fantasticamente exagerada- no que o corpo e os próprios órgãos farão por ela. Mas vê na sexualidade alguma coisa não baseada numa relação entre homem e mulher , mas algo que pode realizar sozinha."
João não confiava em sua mãe que o desprezava. Assim podemos dizer que ele julgava não precisar de uma mulher para realizar a sua masculinidade e sem esta crença, a criança não é capaz de enfrentar o mundo.O que aconteceria se a sua mãe acreditasse que o valor das sementes mágicas era igual ao da vaca prestadora de tantos serviços ? João não teria precisado recorrer ao pensamento de que os poderes fálicos mágicos, simbolizados pelo pé de feijão, poderiam satisfazer as suas necessidades . Se a sua mãe tivesse acreditado no valor das sementes mágicas e ao menos tivesse valorizado a independência do filho manifestada na sua própria decisão de fazer o negócio por conta própria, o fato não teria sido tão nefasto para João.
Acontece que ela escarneceu dele e , o que foi pior, exerceu o seu poder oral, castigou o filho e o mandou para a cama SEM COMER.
Mas na cama João fantasia....e surge a sutileza psicológica dos contos de fadas. As sementes se transformam, à noite, no pé de feijão.Durante o dia este milagre não aconteceria, mas á noite a fantasia aduba os sonhos que João sonha ,o gigante, os objetos mágicos que irão lhe dar a esperança de, um dia, poder satisfazer os seus desejos de grandes feitos que a sua masculinidade recém descoberta lhe promete.O crescimento fantástico das sementes simboliza o desenvolvimento sexual de João, o poder milagroso a fase fálica substitui a fase oral pois as sementes miraculosas substituíram a vaca leiteira.Escalando o pé de feijão, a criança subirá ás alturas para conquistar uma existência superior.Mas, adverte a estória "há grandes perigos nisto. Ficar agarrado á fase fálica é um processo penoso, lento, bem diferente da fase oral."
A independência chega quando resolvemos os novos desenvolvimentos sexuais e sociais e a usamos para resolução dos problemas edípicos. Aí está a chave do aparecimento do gigante, o pai edípico, e o simbolismo da ajuda recebida da mulher do gigante, se não fosse por ela o canibal o teria destruído.Os roubos que o menino perpetra ele os faz, quando o gigante está adormecido, a marca da insegurança que ainda fareja os passos do rapazinho.E a sua oralidade o faz pedir a ajuda da mulher do gigante e esconder-se nas panelas e no forno que ela usa para servir o alimento ao marido.

Simbolismo dos objetos roubados por João

Bolsa de ouro: para sair da miséria na qual vive , João arrisca a vida subindo no pé de feijão, ou seja: em certo nível, escalar o pé de feijão se refere ao poder mágico da ereção do penis, mas também os sentimentos do menino em relação á masturbação.Quando se masturba a criança sente que roubou um poder muito precioso dos seus pais.

Galinha ou Ganso de ouro: João já aprendeu que as coisas se acabam se não pudermos produzi-las ou ter quem as produza.Com a galinha João já estaria satisfeito mas o risco da aventura o impele á terceira escalada.

A Harpa que fala: Este instrumento é mais do que um simples bem material É a arte, a beleza, as coisas superiores da vida. A ultima experiência de crescimento e João aprende que apenas confiar na mágica, não resolve todos os problemas da vida. Isto se solidifica quando de posse do instrumento que o possibilitou a adquirir uma humanidade integral ele toma consciência , devido á perseguição do gigante , que se ficar dependente de mágica para sobreviver terminará destruído.
Decepando o pé de feijão e matando o gigante, João livra-se do pai, do seu poder como o do gigante que o queria devorar.
João, no final da estória já se encontra apto para abandonar as fantasias edípicas e fálicas e pronto para viver a realidade possível a um menino da sua idade.
" Este conto de fadas, como vários outros, poderia ensinar muito aos pais sobre a forma de ajudar a criança a crescer. Diz ás mães o que os meninos precisam para resolver seus problemas edípicos: a Mãe deve apoiar a ousadia masculina do menino, ainda que sub-repticiamente, e protege-lo contra os perigos inerentes á afirmação masculina, particularmente quando dirigidos contra o pai.

FONTE : A PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADASAUTOR
TEXTO : BRUNO BETTELHEIM
EDITORA: PAZ E TERRA
ILUSTRAÇÃO : CLAUDIO SALVIO

Eu volto ao assunto, debatendo sobre a descoberta e o desenvolvimento da homossexualidade. Acho que esse texto diz muito a respeito...

Paulo Franco

Um comentário:

Anônimo disse...

Por que nao:)