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24 de novembro de 2007

O fim do mundo também é aqui.


Nossas mulheres afegãs

Ando pelas livrarias e me assusto com a quantidade de títulos que remetem à vida de mulheres no longínquo e exótico Afeganistão e arredores. Todos os livros, sem exceção, descrevem suas vidas sufocantes, recheadas de inúmeras barbáries contra a vida e a liberdade individual feminina.
Fico a me perguntar por que tanto interesse dos brasileiros pelo tema, e a única resposta que me vem à telha é a de que somos, muitos de nós, voyeurs da desgraça alheia, desde que bem distante... Afinal, quanto mais longe, mais a tragédia se confunde com a ficção.
Somente isso explica por que ir tão longe se temos desgraças iguais ou piores diante de nossos narizes. Uma notícia neste feriado veio comprovar, mais ainda, que temos muito de Kabul em muitas regiões deste Brasil. A terrível história da menina de 15 anos de Abaetetuba, distante cidade do interior Pará, nos revela a face afegã que o Brasil tem e não admite. Ao arrepio de qualquer lei e de qualquer princípio moral e ético, a menina foi recolhida ao xadrez por haver praticado um furto. Não bastasse o desrespeito à sua idade, ela não só foi detida, como jogada numa cela com mais 20 homens. Precisa dizer o que aconteceu?
A tortura durou um mês, e a pena que ela pagou pelo delito cometido foi absurdamente desproporcional. Estuprada toda hora, todos os dias, sua pena chegou ao fim numa situação em que não é possível imaginar desenlace. O que ela viveu é um daqueles acontecimentos que jamais residirão no passado.
O cinismo com que as autoridades trataram o caso é que assusta e desanima: a garota teria acabado na prisão masculina pela inexistência de carceragem feminina; o superintendente da Polícia Civil garantiu não saber que a garota era menor de idade e, se ela tivesse dito, o procedimento teria sido outro. Tudo para depois surgir uma nova história de que a menina seria na verdade uma mulher de 20 anos e, além do mais, uma reles prostituta...
O desanimador é que no Pará o goiverno está em mãos femininas: a governadora petista Ana Júlia Carepa. Suas declarações foram tragicômicas: além de “chocada” com a notícia, ela fez questão de ressalvar seu Estado, dizendo que violação aos direitos humanos não é um problema apenas do Pará...
Como os milhares de escândalos a que assistimos diariamente, este terá o mesmo fim – o esquecimento sem qualquer punição. O que nos resta é descobrir e lamentar que temos muito pouco de civilidade para muito de Afeganistão.

Alexandre Pelege
Alexandre Pelege é comentarista do "Primeiro Programa" transmitido pela rádio Transamérica de São Paulo, diariamente de 6 ás 8 da manhã.
Este texto foi ao ar dia 22/11/07 e me fez refletir muito.
Assim o veiculo aqui pra lembrar sempre, que o fim do mundo também pode ser aqui.
Paulo Franco

>para conhecer mais...http://www.primeiroprograma.com.br

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