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6 de novembro de 2012

Desconstruindo Caravaggio.

Desconstruindo Caravaggio. - Auto retrato

Ele é considerado um ícone do universo gay. 
Preferia os andarilhos, prostitutas, mendigos e povo comum 
das ruas de Roma para servirem de seus modelos. 
Nada foi relatado a respeito de sua homossexualidade, 
apenas especulações de suas andanças, mas em suas obras 
seus 'meninos' retratados sempre com algo de sagrado e profano, inspiraram mentes e criaram seu mito.

Caravaggio - 'São João Baptista.'

Em vida, Caravaggio era considerado enigmático, fascinante e perigoso. 
Isso apenas já o faria um tipo moldado ao universo gay. 
Um tipo marginal em meio a nobreza das artes e seus mecenas. 
Luxo e lixo. Santo e mundano.
Milanês, como seu pai Fermo Merisi, o jovem Merisi surgiu 
na cena artística romana em 1600 e desde então, nunca lhe faltaram comissões ou patronos. Porém, ele lidou com seu sucesso de maneira atroz. 
Uma nota publicada sobre ele, em 1604, descrevia seu estilo de vida assim: 
"Após uma quinzena de trabalho, ele irá vagar por um mês ou dois 
com uma espada a seu lado e um servo o seguindo, de um salão de baile para outro, sempre pronto para se envolver em alguma 
luta ou discussão, de tal maneira que é bastante torpe acompanhá-lo." (atribuída a Floris Claes van Dijk; Roma, 1601)

Cartavaggio - 'São João Baptista.'

Considerado inconsequente  farrista  boêmio, Caravaggio vivia em 
problemas com a polícia, sempre sem dinheiro e buscava brigas 
nos pulgueiros da cidade. Em 1606, matou um jovem 
durante uma briga e foge de Roma, com a cabeça a prêmio. 
Passou por Nápoles, depois por Malta e pela Sicília, 
onde pintou telas de lirismo transfigurado. 
Em Malta (1608) envolveu-se em outra briga, 
e mais outra em Nápoles (1609) nessa possivelmente um atentado premeditado contra a sua vida devido suas ações, por inimigos nunca identificados. No ano seguinte, após uma carreira de pouco mais 
do que uma década, Caravaggio estava morto.

Caravaggio - 'Amor vincit omnia.'

Desconstruindo Caravaggio
É preciso demolir o mito de que 'Caravaggio era gay', 
para que se possa aprofundar em sua arte.

por Marco Lacerda, jornalista, escritor e Editor.

Poucos artistas personificaram tanto o excesso como Michelangelo Merisi da Caravaggio,  nascido em Milão, em 1571 e morto aos 39 anos. Seus quadros foram criados enquanto sua vida pessoal chafurdava em escândalos que incluíram até um assassinato. Considerado um ícone no universo gay, por seus quadros eróticos, quase pornográficos de jovens, Caravaggio sempre teve como padrinhos figuras da nobreza italiana e da hierarquia da Igreja católica

Caravaggio - 'São João Baptista alimenta o cordeiro.'

A vida desse artista milanês foi uma espécie de maldição, repleta de muito mais pontos escuros do que claros. Foi necessário que se passassem mais de quatro séculos desde a sua morte, em 1610, para que os estudiosos chegassem a alguma explicação para uma vida tão enigmática e contraditória. 

A biografia escrita recentemente pelo crítico de arte inglês Andrew Graham-Dixon, 
“Uma vida sagrada e profana” (ainda inédito no Brasil), desfaz a maioria das lendas sobre o artista que sobreviveram através dos tempos. 
“São 538 páginas, resultado de dez anos de investigação jornalística e rigorosa análise científica”,  diz o comentarista Ángeles García, do jornal espanhol El Pais. 
“É a história trágica de um homem marcado pelo infortúnio, que viveu desamparado desde os cinco anos de idade. As provas referem-se a Caravaggio como uma pessoa diabólica, mas para entender esse preconceito é preciso que o leitor mergulhe na vida do artista, coloque-se em sua pele, para entender comportamento tão desatinado”, 
diz o autor da biografia.

Caravaggio - 'Narciso.'

Vingança e conflito

A vida de Caravaggio foi uma obsessão para Graham-Dixon por mais de uma década. 
“Há muito tempo me fascinava seu mundo e sua obra. Muitos pesquisadores escreveram disparates sobre ele. Na verdade a vida desse artista era uma bomba soterrada. Faltava apenas pisar nela para que tudo explodisse 
e viesse à tona: suas vinganças, seus amores por homens e mulheres, os garotos que buscava nas ruas para serem seus modelos. Tudo isto reunido compõe uma história incrível”, diz o autor. 

A grande novidade na biografia é o fato de Graham-Dixon explicar como Caravaggio foi ao mesmo tempo um artista imenso e uma pessoa atormentada por todo tipo de conflitos. - “Era um homem de verdade num mundo ambíguo. Não era louco, tampouco gay. Tinha incontáveis fraquezas,  próprias de alguém que uma peste matou toda a sua família, deixando-o sozinho no mundo aos cinco anos”
prossegue o biógrafo.

Caravaggio - 'Davi com a cabeça de Golias.'

Violência explícita

Quando sua afirmação de que Caravaggio não era gay é questionada por outros pesquisadores, Graham-Dixon aponta os motivos que o levaram a tal conclusão. 
“É verdade que suas pinturas são carregadas de erotismo e que os garotos que retratou são pura lascívia, mas também o são as mulheres que pintou, prostitutas que serviram de modelo para suas telas de fundo religioso”, explica. 
“A meu ver Caravaggio era um homem omnissexual, não bissexual. Tudo nele era pura força primária. Estou empenhado em destruir o mito que o tem rotulado através dos séculos como um artista gay. É a única maneira de se contemplar sua pintura em profundidade. Os que insistem em vê-lo assim sofrem de catarata 
e precisam operá-la. Só assim poderão ver esse gênio com claridade." conclui.

Caravaggio - 'Os Trapaceiros.'

A conotação sexual se equipara à carga de violência presente na obra de Caravaggio. 
“Alguns quadros parecem ter sido inspirados num filme de Martin Scorsese”, ironiza o autor, que pretende adaptar a biografia para o cinema, num filme dirigido pelo próprio Scorsese que, numa entrevista à BBC de Londres,  deixou clara sua paixão pela obra e a vida do pintor milanês. E quem faria o papel de Caravaggio? 
“Keith Richards (guitarrista dos Rolling Stones)", responde Graham-Dixon sem hesitação. 
Na concepção do biógrafo, o ator espanhol Javier Bardem faria o papel do homem que assassinou Caravaggio.

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Caravaggio - 'O Tocador de Alaúde.'

Desfazendo se ou não o véu do mito, Caravaggio permanecerá como um ícone dentro do  imaginário gay. Quisesse ou não retratar seus amantes, o fato é que lançou isso no espaço e mais de 400 anos após sua morte, seus retratados permanecem nos mesmo lugares, exibidos, santificados nas molduras e nas curvas que um 'mundano' pintos os fez. 

Caravaggio - 'Menino com cesta de Frutas.'

Caravaggio - 'Os Músicos.'

"Seja com for, permanecerá inalterado a genialidade de Caravaggio."

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