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6 de junho de 2010

Hora de parar


A hora de parar

Alguns momentos em nossas vidas se assemelham àquela situação
enfrentada por um motorista numa cidade estranha,
tendo como referência apenas um mapa equilibrado no colo:
por mais que esteja atrasado, ele sabe que, se quiser chegar ao destino,
terá de parar o carro para saber onde realmente se encontra.
Terá de olhar o mapa com vagar, conferir o trajeto percorrido,
verificar se houve erros ou não e estipular que rumo tomar para chegar aonde pretende.
Em movimento, ele sabe, é impossível fazer tudo isso sem correr riscos.
A lógica e a prudência recomendam uma pausa para o ajuste das rotas.

A vida, penso eu, se mostra assim, às vezes.
Temos de nos recolher em algum tipo de silêncio, em algum tipo de refúgio ainda que imaginário,
para que o passo seguinte não seja aquele a nos precipitar para o abismo.
Os abismos na vida são inevitáveis, cada um de nós sabe disso.
Não apenas inevitáveis, eles são traiçoeiros e peritos em surgir
no que julgávamos ser a planície dos nossos sonhos.
Com o tempo, a sucessão de quedas e uma dose de experiência que nunca se revelará suficiente,
aprendemos a farejar a proximidade do abismo
como os gatos percebem o pequeno inseto invisível aos nossos olhos.
E então temos a chance de parar um pouco, de tentar conter a onda que se agiganta à nossa frente,
 ou ao nosso redor, e optar por uma segurança que talvez só a solidão
 e a quietude nos reservem. Ainda que uma falsa segurança, é provável.

Poderia ser tão bom, se parar não fosse muito mais difícil do que prosseguir,
do que deixar-se arrastar pela ilusão de um vento suave,
do que ceder a todos os apelos que nos chegam por cada um dos nossos sentidos.
Parar um pouco não significa dizer não à vida, represar as marés,
fazer calar todos os gritos altos e incômodos.
Parar um pouco significa apenas isso mesmo: parar um pouco.
Como o motorista que, em movimento, não consegue mais reconhecer
o cenário daquela cidade estranha em que ele acabou de chegar.
No entanto, por mais que seja premente parar, ainda resta uma questão em aberto:
o que fazer diante de todo este silêncio,
de todo este dolorido e prolongado silêncio, que a pausa nos traz?
 
Estarei mais silencioso.
 
˙˙·٠•● "eu sou a lenda ☠ eu nÃo presto" ●•٠·˙˙™

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